
Na bagunça da minha casa…enorme e praticamente abandonada por uma agenda repleta, pela sede de querer abraçar o mundo e transformá-lo, de repente caíram umas fichas…e, confesso – melhor elas do que eu! – porque com certeza eu era a próxima da lista.
Minha mãe deixava de ir e vir e colocava a culpa na casa: ou não podia deixá-la sozinha para viajar, ou não estava organizada o suficiente para receber amigos. Eu, com a rebeldia que me é nata e ainda incentivada por uma amiga que diz que não vem em minha casa para fazer faxina e sim para me ver, cheguei ao cúmulo do desapego…
Assim, recebi em casa meu amor e ele reparou o caos instaurado no meu lar e logo depois de perguntar se eu queria ajuda, já emendou a frase: “é sinal de desapego, isso é bom” (ou algo assim). Confesso que com vergonha que concordei mas meu pensamento disparou e percebi que era justamente o contrário: eu estava ocupando espaços para não sentir ausências. O incômodo tomou conta do meu ser. Por que temos que inventar tantos pretextos para não sentir a vida a seu tempo? Por que deixar a pia cheia para matar as saudades da família?
É uma linha tão tênue que transforma desapego em apego, espaço em vazio, 8 em 80…
Reparei na árvore, crescendo desenfreada, tapando horizontes e eu – apegada – encontrando desculpas para não olhar além…criando o meu portal – como se fosse possível separar 2 mundos e seguir na caverna encantada…
Mesmo com a minha dificuldade confessa de encarar os grandes desafios da vida, quando os pensamentos me consomem, eles realmente me torturam e eu não me entrego! Os pensamentos são como fogo, que só se aquietam quando acaba o ar…e assim, como uma chama que busca a combustão, encarei o desafio de abrir espaços…e abrir os poros!
Assim, de supetão eu fui: para a poda, para o desapego! Ignorei a chuva e pedindo desculpa aos pássaros, desbastei o pé de louro e no ímpeto podei também o recanto dos beija-flores…deixei a água limpar a pele, deixei as as folhas me revelarem…
Fácil, fácil juntei algumas sacolas de lembranças para o descarte.
Depois de faxinas e outras reinações, exausta, subi para descansar e ferrei no sono. Qual não foi a minha surpresa de acordar no dia seguinte com o céu azul me desafiando e o bater de asas de um sabiá ao meu lado? Fazia tempo que eles não entravam lá em casa. Pois este entrou. E entrou para valer: atravessou a sala, subiu pelas escadas e foi me dar bom dia….e eu, eu escutei até mais: que é preciso abrir espaços para a vida entrar, abrir os poros para poder sonhar e enxergar além do horizonte…
Ah….e os pássaros não reclamaram a redução de seus recantos….pelo contrário: se exibiram e se deleitaram com o rearranjo das vidas e dos verdes! 😉
[…] triologia – comecei escrevendo sobre “o sentido das coisas“, evolui para “o desafio de abrir espaços e poros” e então me deparei com a “guerra das coisas“! Eles contam o caminho de buscar o […]
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