
Eu nunca gostei da ideia de olhar para a dor alheia como forma de minimizar a nossa até porque, como ouvi recentemente, é impossivel comparar sofrimentos. Eu concordo: cada um com a sua história, cada um com a sua cruz…Mas eu não quero falar de dor, quero falar de aprendizagem…Nestes tempos de pandemia a morte nunca esteve tão perto e ela ensina: é o amigo, o amigo do amigo…não são números, são vidas!E em paralelo a pandemia, a vida segue e tambem se esvai: em menos de uma semana, perdi 3 pessoas especiais: a tia de uma amiga querida, um de meus hosts na África do Sul e anteontem um primo mais ou menos da minha idade, com o qual ainda este ano me encontrei e compartilhamos histórias de família e sonhos de futuro. Difícil acreditar. Não cai a ficha que agora as doces lembranças serão para sempre só saudades. Inevitável lembrar daquele jogo de criança chamado “resta um” quando as peças iam sendo retiradas e ao final ficávamos “sozinhos” no tabuleiro. Esta era a vitória. Mais do que nunca, a vida parece ter um sentido ainda mais forte para mim: não é apenas a passagem do ar pelo meu corpo, mas algo que como nunca precisa ser cultuado e valorizado: não me sinto mais vivente, e sim sobrevivente!A morte ensina o valor da vida. A ausência valoriza a presença e o presente, valoriza os pequenos gestos que não devem ser economizados. Constato as vidas que se vão e é inevitável pensar: por que eles e não eu? Eu que não tenho mais pais e nem filhos. Eu que tenho tão poucos vínculos… E não é que eu queira trocar de lugar com estes seres queridos que se foram: trata-se de valorizar minha existência e fazer valer cada segundo! Em homenagem a eles. Em homenagem a outros tantos que já partiram e são milhares e que a cada dia são ainda mais. Chorar a morte, deve nos ensinar, cada vez mais a valorizar e respeitar a vida. A não economizar palavras, a não esconder ou postergar sonhos, a não esquecer o sorriso e respirar fundo mesmo em meio as lágrimas e adversidades. Dor, de fato, não se compara: se vive, se transforma em aprendizagem. Trata-se de compartilhar amor e exalar gratidão em atos e fatos. Em coisas pequenas, em instantes possíveis. Trata-se de não desanimar e seguir, mesmo quando o horizonte está turvo e nebuloso. Avançar, nem que sejam milímetros, porque, afinal, seguimos no tabuleiro da vida, e esta é a maior dádiva de todas e o motivo – um dia a ser compreendido – de persistirmos!