
Por mais que volta e meia tentem nos fazer acreditar que a vida é um “toma lá, dá cá”, eu não consigo me convencer. Finalmente, acho que agora vou conseguir explicar minha discordância, usando 3 exemplos de gratidão para formular esta equação…

Em uma das lindas viagens que fiz de bike – de Maceió a Recife pela praia – conheci Graça. Não poderia ser nome mais exato. Depois de 3 dias de cenários de tirar o fôlego, chegamos em Recife. Eu já tinha um hostel reservado. Mas a Graça insistiu e fiquei na casa dela com os outros do grupo que também não eram de Recife. Foi muito especial e sempre pensei como poderia retribuir a tanto carinho e gentileza. Mas tudo que eu pensava parecia pouco diante do imenso carinho que recebi, e acabei nunca fazendo nada….Depois desta vez, ainda fiquei várias outras vezes na casa de Graça….até férias eu tirei lá.

Alguns anos depois, em uma pedalada pela costa uruguaia por indicação de um amigo resolvi experimentar um site de hospitalidade para ciclistas. Mandei um mensagem e recebi a resposta afirmativa. Foi assim que conheci Edgar, em Libertad. Ele me recebeu como rainha, ou melhor: como uma velha e querida amiga. Preparou salada de frutas, fez assado, preocupou-se em alcançar-me uma almofada – para que eu descansase o traseiro da pedalada – e um chapéu – para proteger-me do sereno. Conversas sobre a vida e a passagem do tempo foram longe sob o céu estrelado.

Este ano, em minha última hospedagem solidária na África do Sul conheci Carol. Sim: Carol, minha xará. Cheguei até ela por intermédio de um casal que também me acolheu calorosamente em uma fazenda na região de Tsitsikama. Carol e seu marido são professores e moram dentro de uma escola. Eles e seus filhos são ciclistas também. Uma série de lindas coincidências que valem outra história! Depois de caminhar e conhecer um pouco da linda Woodridge College, conversamos muito. Em especial, sobre gratidão e gentileza. Sobre o prazer em servir ao próximo e a realização que isto traz. Quando na manhã seguinte ela veio carinhosamente me acordar com um café na cama e um sorriso e depois discretamente observei ela fazer o mesmo com seu marido e sua filha eu entendi a equação. Entendi finalmente a matemática do Universo aqui representada pela Graça, pelo Edgard e pela Carol. Entendi que não há forma mais precisa de retribuir todo o bem recebido do que espalhando mais bem. Era o que o Profeta Gentileza dizia: “gentileza gera gentileza”. E não, definitivamente não se trata do “toma lá, dá cá” pois é doação pelo prazer de doar, e não pela expectativa de receber. É uma sutileza: eu dou um abraço porque gosto de abraçar, e não porque quero outro….ainda que seja óbvio que quero abraços porque gosto deles. Mas, ainda que eles não voltem, seguirei abraçando….A matemática do Universo é infinitamente mais linda do que a matemática dos cadernos, porque não tem aquele sinal de igual nem tem qualquer exigência de um ou outro lado…todo o carinho e hospitalidade que recebi de “Graça”, por exemplo, eu só posso agradecer sefuindo seu exemplo e fazendo com o próximo o que ela fez comigo….Assim, tentei agradecer quando abri as portas da minha casa e do meu coração para a Zoe e o Olivier, ciclistas da Holanda e Bélgica. E foi assim com todos meus hóspedes: tentei sempre oferecer o meu melhor, mostrar a cidade e seus sabores, fazer com que sentissem “agasalhados”, como escreveu Maria, da Espanha, outra hóspede querida que recebi. E tenho a certeza da que tudo o que eu fizer será pouco para retribuir tudo que recebi da Graça, do Edgard e da Carol – e de outros tantos que injustamente não estou citando, mas que me acolheram também de forma maravilhosa. ( se citasse, este texto viraria uma enciclopédia!)
Amor e gentileza são grandezes, são valores que se espalham sem endereço certo pelo legítimo prazer de compartilhar: esta para mim é a matemática do Universo. Esta é a equação que faz sentido e que faz meu coração bater.