
Não, eu não mordo. Mas penso. O que, no mundo dos homens (de H minúsculo) é muito pior: o pensamento assusta e pode ferir mais que mil dentadas. Eles têm medo. A caça pode ser abatida, a carne consumida, o corpo aprisionado. A alma não. A alma não tem limites, não tem preço… precisa ser conquistada, sem fórmulas, sem artimanhas…o desafio é imenso! E ninguém quer isto… para quê a eterna conquista, para quê a eterna dúvida, se a ilusão do abate é muito mais simples, concreta, factível. As pessoas são práticas. Concretas. Medrosas. E eu meto medo. Não porque tenho quase dois metros de altura e pernas capazes de pedalar centenas de quilômetros em busca de horizontes, mas porque meus sonhos não têm limites, porque meus pensamentos não param um segundo sequer, porque eu pago qualquer preço para me sentir plena e feliz. Mesmo que este preço seja amargo. Sei que os sabores se sucedem. E o doce fica mais doce se não cai do céu…
Eu meto medo. E a ameaça são palavras – os caninos afiados do pensamento – sou boa com elas: desde pequena tirava vantagem nas brigas com meu irmão mais velho subindo em uma cadeira e disparando palavras duras em seu rosto. Sempre compensei e ganhei assim de 2 metros de 10 de força bruta.
Hoje pensamentos e palavras me completam: me protegem, me extravasam…me tornam plena ao dar vida aos meus sentimentos. E é também com as palavras – todo meu poder de fogo – que eu juro: sou da paz, eu não mordo!
PS: Se restar alguma dúvida, depois de três ataques caninos, minha carteirinha de vacinação está em dia e, caso eu morda, não é contagioso!