
Dona do Coração: o nome não podia ser melhor. Mas o que ficará para sempre – como um sinal e uma lição – é a Imagem Oculta. Hipódromo do Cristal, primeira reunião da temporada e último páreo do programa. Éguas de 4 anos s/ mais de uma vitória, 5 anos s/mais de duas vitórias e 6 anos s/mais de três vitória.
Não é de hoje que sou apaixonada por esportes e sua incrível contribuição para construir um mundo melhor através da disciplina, treinamento e eterna busca da superação…com muito suor, sangue e, é claro, coração! Assim, foi inevitável que eu me apaixonasse também pelos cavalos… Como moro perto do Hipódromo, todos os dias que saio de casa – muitas vezes antes de clarear – para me dedicar ao ciclismo ou natação – dou uma espiada e lá embaixo vejo aquelas “formiguinhas” já determinadas, treinando na raia, faça chuva ou faça sol. E estou falando de “formiguinhas” que pesam cerca de meia tonelada e mesmo assim muitas vezes ultrapassam 60km/h, enquanto eu, nos meus “míseros” XX quilos, sou no máximo uma lesma diante deles…somado a eles – formando um conjunto – como ouvi certa vez – de quatro patas e dois corações está o jóquei. O jóquei é um ser pequenino de raciocinio rápido, alma enorme e imensamente corajosa que dá cor e ainda mais vida as corridas de cavalo.
Mas, voltemos ao Hipódromo….último páreo de uma dia de inverno ensolarado com pequenas grandes vitórias…
Eram “apenas” 1000 metros em areia macia. Quando a turma fez a curva na pista e entrou na reta final começou a gritaria e todos ao meu redor vibravam pois quem estava na liderança era a égua de um criador que estava ali. Me somei ao grupo e comecei a vibrar, empolgada, torcendo…e não é que ela ganhou? Vitória para a Dona do Coração! Mas e a Imagem Oculta?
Sempre buscando compartilhar a expressão da vitória eu acompanhei o pelotão depois que cruzaram o disco – onde a câmera não vai – e testemunhei o instante exato que uma das éguas caiu no chão – do nada – como se numa fração de segundo sua bateria tivesse acabado completamente. Nas frações de segundo seguintes – e no turfe cada décimo de segundo é uma eternidade e vale muito – vi aquele pequeno se desvencilhando da égua e indo para o outro lado da cerca. O joquei está vivo e bem – pensei – graças a Deus. Cheguei a dizer que meu coração não está pronto para esta faceta – inevitável – das corridas de cavalo. Eu não queria olhar. Mas não tinha como não olhar. Eu precisava olhar. Eu precisava, mas não queria acreditar. Então eu olhei. A égua estava lá, alguns metros depois do disco, imóvel, como se fosse uma pedra, plantada na areia da pista. Eu continuava não querendo olhar mas sem conseguir parar de olhar…e a esta altura, o coração que estava apertado demais no peito já estava saindo pela boca. O socorro já estava ali. Mas a sentença parecia estar junto…e eu já comecei a rezar para que o páreo fosse bom lá no andar de cima…e no instante que as lágrimas começaram a me aliviar diante do inevitável, percebi um reboliço de mãos e patas até que em “upa” a égua se pôs de pé e saiu da pista caminhando e tenho a certeza de que se pudesse falar diria: “estão me olhando por que?” Não me controlei e desarvorada corri para a pista, encontrei o veterinário, que contou que ela parou de respirar e por isso caiu. Com a medicação exata, ela recobrou a função e aí foi só levantar. Felizmente não tinha machucado na queda. “Não se preocupe Carol, em 2 dias ela já está correndo”. O nome da égua? Imagem Oculta! O sinal e a lição. O que quase ninguém viu, mas aconteceu.
Imagem Oculta. O sinal de que para quem se entrega com paixão a algo que acredita muito – e os cavalos de corrida são assim: puro sangue, puro coração, pura entrega – sempre há esperança. Quedas são parte da vida. Assim como muitas vezes, se a respiração não pára, o que parece faltar é o ar. Uma batalha pode estar perdida, mas a vida, nunca! A vitória da “Dona do Coração” é certa.
Imagem Oculta. A lição de que nem sempre as coisas são como parecem ser…mas com certeza são mágicas! …e que não ‘tá morto quem peleia!