
Eu vinha de bicicleta pela ciclovia compartida em uma rua florida de menor movimento e vislumbrei no horizonte um senhor em um quadriciclo motorizado e a esposa logo atrás, em um triciclo, levando um cachorro e um par de muletas na cestinha traseira. Meu coração disparou. Em uma imagem – o retrato da verdadeira e efetiva inclusão: poder ir e vir com liberdade! Poder escolher o caminho e como segui-lo. Ter opção ao invés de opressão.
Filha de Maria, nunca fui vai com as outras. A duras penas aprendi que é preciso sair dos trilhos para encontrar um caminho na vida….Sim, é preciso ter coragem e colocar no horizonte aquilo que faz nosso coração sorrir e ele trata de abrir os caminhos. É preciso não se conformar em seguir o caminho mais fácil, mais curto, ou o que todos fazem. Nem todos são iguais. Nem os caminhos, nem as pessoas.
Com certeza a poesia nos ajuda nesta busca, mas o grande desafio é também sair dos versos para entrar na vida, colocar discurso e prática lado a lado.
Na minha teoria, o que os outros pensam ou deixam de pensar, não faz diferença, mas na prática é difícil viver esta convicção, aliás, venho pensando que talvez seja este um dos grandes desafios da humanidade. Imagine se todos tivessem a coragem de fazer o que acreditam e pagar o preço – em tempo e resistência – até que os seus sonhos frutifiquem?
Já fui tachada de louca por pedalar de noite, pela cidade. A fama só piorou quando eu resolvi viajar de bike. Hoje estou na moda. Mas, nunca foi isso que busquei. Sempre quis a coerência entre o sentir e o agir. Eu só sai do trilhos, para entrar na linha. Sai dos trilhos para entrar em harmonia com meus propósitos. Sim, pode parecer ironia, mas é isso! De um modo geral nos ensinam que é preciso seguir um caminho padrão para chegar. Mas quem disse que eu quero chegar? Eu quero é viver o caminho e me abrir para suas possibilidades. Benditos sejam os descarrilamentos da vida…